quinta-feira, 19 de julho de 2007

Aparição

As figuras nas cortinas de azornal, escalavradas pelo vento, se cumprimentaram uma a uma e Mary Éfe entrou no quarto.
Mary Éfe ainda com sangue seco sobre os olhos.
Ali, ali diante desse genuflexório, se ajoelhou para mendigar a doce languidez da vida eterna, ali vi seus lábios se mexerem sem sair voz, ali vi seus olhos mortos fitarem o nada em direção ao crucifixo barroco.
Ali ficou escavando seus pecados mais recônditos sem olhar uma só vez em minha direção, eu seu assassino, refugiado nessa ruína, empoeirada cama de dossel.
Então não sei se foi a palidez da lua ou de lúcifer, mas sua face se voltou para o outro lado e saiu do quarto rumo a não sei que horrores.
Preferi acender a luz e voltar a profunda melancolia dos tercetos, ali onde uma voz que geme e chora ao mesmo tempo repete sem parar que não há infelicidade maior do que lembrar na miséria do tempos em que fomos felizes.

Um comentário:

Fernanda Rossini disse...

é, realmente tu é apaixonado pela Mary Farias.